Opinião
Isaac Roitman | 04 de May de 2022

É bastante comum se receber notícias de nossa capital, com perplexidade e preocupações. Tentarei convencer os leitores que Brasília é uma fonte de inspiração e celebração. Em abril de 2022 comemoramos 62 anos da criação de nossa capital e também 60 anos de nossa querida Universidade de Brasília (UnB), e também nesse ano o centenário de Darcy Ribeiro, que, em parceria com Anísio Teixeira, implantou a UnB.

É pertinente lembrar o pensamento de Juscelino Kubitschek feito em 1956: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”

Temos todos, brasilienses de nascimento ou de adoção, um compromisso com os fundadores da capital que deve ser uma cidade laboratório e espalhar as iniciativas virtuosas para todo o Brasil. Ainda estamos muito longe de termos um Brasil feliz e justo. Para superar as crises, em todas as dimensões, precisamos implantar, desde os primeiros anos de vida, uma educação para a cidadania onde as práticas pedagógicas devem estimular o pensamento, a criatividade, as práticas sociais civilizadas e a crítica argumentada. Virtudes e hábitos tais como, solidariedade, ética, bondade, respeito a diversidade, respeito ao meio ambiente, compaixão e amor devem ser implantadas e cultivadas.

Essas ideias já eram defendidas por Anísio Teixeira que pregava que a sociedade democrática deve ser forjada através da escola. Devemos ser otimistas e crer no aperfeiçoamento da democracia. A democracia brasileira precisa ser preservada, fortalecida e consolidada em um processo de construção que é de responsabilidade de todos nós.

Desde a sua fundação, a UnB procurou ser inovadora. Em 1986, foi a primeira universidade brasileira a criar um Centro de Estudos Avançado Multidisciplinares, o Ceam, estimulando a criação de centros semelhantes em outras universidades do país.

Um outro aspecto que indica um pioneirismo da UnB foi o estabelecimento de medida que favorece os direitos humanos e o combate da discriminação racial dos afrodescendentes e de povos originários com o benefício de cotas e vagas indicadas para acesso à universidade. Esse acesso colaborou na ascensão de muitos estudantes que, de outro modo, não ingressariam em curso superior.

A UnB, além de seu campus Darcy Ribeiro, implantou campus em Ceilândia, Gama e Planaltina, ampliando seus laços com a sociedade de Brasília e de sua área de influência geográfica. A UnB foi a primeira Universidade federal a implantar cotas para afrodescendentes e de origem ancestral. Esse acesso, foi inédito no país inteiro e colaborou na ascensão de muitos estudantes que, de outro modo, não ingressariam em curso superior.

Pode-se afirmar que, sempre necessária e essencial, a Universidade deu um passo importante para enfrentar o desafio reduzindo as desigualdades econômicas e sociais, tornando-se mais inclusiva, como apontava sempre o seu primeiro reitor, Darcy Ribeiro.

O grande desafio é que os jovens e toda a sociedade brasileira defendam esse tesouro, esse valioso patrimônio brasileiro que é a Universidade Pública. Para a Universidade Pública, o grande desafio é a consolidação da responsabilidade social em seus formandos e a produção do saber que será o instrumento para conquista da equidade social do povo brasileiro. Assim estaremos plantando um futuro virtuoso para o Brasil.

Vivas à UnB e a Brasília. Lembremos o pensamento do grande geógrafo Milton Santos, que pode indicar os caminhos do futuro dessa linda, necessária e sexagenária Universidade e de sua linda capital Brasília: “A coisa mais importante para os brasileiros é inventar o Brasil que nós queremos.”

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Publicado originalmente no Monitor Mercantil em 27/4/22.