Opinião
Reinhardt Fuck | 23 de April de 2022

Arribei em Brasília às 3 horas da tarde de 1° de fevereiro de 1969. A bordo do fusca vermelho adquirido via consorcio no ano anterior, deixara Curitiba dois dias antes para assumir, a convite, a posição de professor colaborador no Curso de Geologia da Universidade de Brasília. Após 5 anos de profícuo aprendizado como geólogo de campo, primeiro por 6 meses no Ceará, depois na Comissão da Carta Geológica do Paraná, e em condições climáticas nem sempre agradáveis, porém suportadas estoicamente - fazer o que se há de, além de amaldiçoar a barraca de lona que não segurava a chuva e o frio...? - estava ansioso para assumir o cargo, atendendo vocação há muito sonhada... Curiosa e coincidentemente, na parada para descanso e pernoite em algum ponto do Triângulo Mineiro, cruzei com Marcelo Ribeiro, então coordenador do Curso de Geologia da UnB, que fazia o caminho inverso, em férias com a família rumo ao Sul...

Sem conhecer a Capital, acabei adentrando pela Avenida das Nações, hoje mais conhecida por L-4. Perdido, sem placas indicativas e sem vivalma para obter informações, andei pela avenida, perguntando: Cadê a cidade? Cadê Brasília? Cadê todo mundo? Pois a avenida era ladeada por vegetação densa – estávamos na estação das chuvas, mais adiante vim a aprender ser típica do cerrado do Brasil Central - cadê os prédios? Embora angustiado, mas considerando que a avenida era de bom asfalto e deveria dar em algum lugar, resolvi seguir por ela. Depois de minutos – que mais pareciam horas – deparei-me com o Palácio da Alvorada, cercado pelos lindos gramados sempre presentes nas fotos que havia visto. Um tanto surpreso, porém aliviado, pensei com meus botões, bueno, estou em Brasília... Obtive, então, a informação para chegar ao Brasília Palace Hotel, em que haviam reservado um quarto para a estada dos primeiros dez dias.

No dia seguinte, logo cedo, orientado pelo pessoal do hotel, consegui chegar à UnB, mais precisamente ao Minhocão, apelido carinhoso do ICC que até hoje persiste. O Minhocão então habitável resumia-se à porção sul: as áreas central e norte eram um esqueleto meio assustador... O estacionamento sul era uma área aplainada e barrenta... Cheguei na Geologia, então alojada no subsolo da ponta sul do ICC e fui encontrando o pessoal: José Danni, Álvaro Faria, Leonardo Mangeon, Eurico Moreira, Lauri Bez, Ingo Glaser, Gerobal Guimarães, Pratini de Moraes e outros. A eles vieram se juntar outros nos meses subsequentes, como João Hirson, Eduardo Ladeira, Elmer Salomão, Getúlio Barbosa, etc. Cumpridas as formalidades burocráticas de admissão, saí a campo para conseguir um tugúrio, providenciar a mudança guardada em Curitiba e a vinda da saudosa esposa Maria Isaura e da primogênita de um aninho Beatriz Helena, então com os pais em Fortaleza, que aguardavam o sinal verde para virem a Brasília.

De pronto, desisti da Asa Norte, então um deserto, apenas interrompido aqui e ali por uma sucessão de nefandos barracões de madeira de dois pavimentos ao longo das que vieram a ser as vias comerciais adjacentes às superquadras... Acabei alugando acolhedor apartamento na SQS 206, pertencente a ‘Seu’ Albino, modesto funcionário público vindo para Brasília com a mudança da Capital.

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