Para comemorar os 60 anos da universidade de Brasília, nada melhor do que falar do que ela tem de melhor: seus alunos. Poderia citar 300 nomes de ilustres ex-alunos, ou, numa versão mais familiar, falar dos meus três filhos formados na UnB. No entanto, prefiro descrever a carreira de três colegas do Departamento de Engenharia Elétrica, onde eu entrei em 1978, como aluno, e continuo, até hoje, encantado com os seus resultados.
Neste mês de março, convidei quatro especialistas do setor de energia para, num ciclo de palestras, falar sobre a transição energética. Os quatro, é claro, ex-alunos da UnB. Como eu disse, vou restringir este texto aos colegas do meu departamento. O ex-aluno José Mário Abdo tinha como tema A transição energética e a regulação. Formado na engenharia elétrica em 1972, seria a pessoa ideal para falar sobre a regulação do setor elétrico brasileiro já que foi o diretor Geral da Aneel quando ela foi criada. No entanto, ele pouco falou sobre as regras do setor. O seu depoimento, emocionado, foi sobre o papel da universidade. Foi o quanto a UnB tinha sido importante na sua formação e tinha transformado a sua vida. Uma palestra excepcional pelo entusiasmo e motivação transmitidos aos alunos.
A Universidade de Brasília tem, de fato, esta característica de transformação da vida dos seus alunos. Ainda me lembro, como calouro, a diversidade regional e cultural que eu encontrava nas salas de aula. Colegas de Arquitetura, de Biologia, de Psicologia e tantos outros cursos desvendando, juntos, os mistérios de uma disciplina como Cálculo 1.
Voltando no tempo, em 2001, como assessor do dr. José Mário na Aneel, tive a oportunidade de conhecer outra grande liderança forjada no nosso departamento. Estávamos na crise de abastecimento de energia, e o ministro Pedro Parente comandou a Câmara de Gestão da Crise com firmeza, transparência e com uma clara percepção do papel social do servidor público responsável. Os difíceis embates técnicos relacionados à estrutura do setor elétrico eram decididos com precisão e com a urgência necessária. Recentemente, outra importante missão lhe foi atribuída: recuperar financeira e eticamente a Petrobrás. Mais uma vez, com a mesma postura de quem foi muito bem formado, recuperou a maior empresa do Brasil.
Buscando ainda mais longe na memória, no início da década de 80, quando eu cursava Engenharia Elétrica, tive a oportunidade de conhecer um jovem professor, ele também ex-aluno da casa, que se destacava pelo brilho das aulas e a atenção que dedicava aos seus alunos. O professor Henrique Malvar, depois de fazer seu doutorado no MIT, revolucionou as técnicas de processamento digital de sinais.
A nossa capacidade de formar talentos não é, infelizmente, a mesma de manter esses quadros no país. Malvar foi convidado a integrar os quadros da Microsoft, em Seattle. Rapidamente a empresa entendeu que ele era muito mais do que um pesquisador excepcional. Foi promovido para vice-presidente mundial de pesquisa e continua definindo os rumos tecnológicos da comunicação digital. Recentemente, o Conselho Universitário outorgou o título de Doutor Honoris Causa ao nosso brilhante ex-aluno.
Na sua fundação, Darcy Ribeiro dizia que a Universidade era indispensável para formar quadros na capital para definir políticas e o rumo do país. Passados 60 anos, tenho certeza, estamos cumprindo, com muita competência, a nossa missão.
Ivan Marques de Toledo Camargo é graduado em Engenharia Elétrica pela UnB, mestre e doutor em Génie Electrique - Institut National Politechnique de Grenoble (França). Professor do Departamento de Engenharia Elétrica. Foi reitor da Universidade de Brasília, decano de Ensino de Graduação/UnB, superintendente de Regulação do Serviço de Distribuição e assessor da Diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), presidente da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético e editor da Revista Brasileira de Energia.