A Universidade de Brasília realizou sessão especial em comemoração a seus 60 anos na 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência (SBPC). O evento, intitulado 60 anos da UnB e suas lutas, aconteceu nesta segunda-feira (25), no campus Darcy Ribeiro, e rememorou a história da Universidade, ao abordar desafios do passado e do presente.
A reitora Márcia Abrahão recordou fatos da UnB após o período mais intenso da ditadura militar. Contou que em 1983, enquanto estudante de graduação, teve os primeiros contatos com a pulsação bem característica da Universidade, quando o Departamento de Física entrou em greve. “Já na década de 1990, tivemos momentos difíceis de financiamento e cortes. Em 1996, houve uma greve de docentes em que ficamos sem salário. Em 2008, tivemos uma forte crise, na qual o movimento estudantil foi muito importante e resultou na renúncia do reitor. Foi também um momento triste na UnB”, lembrou.
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O cineasta Vladimir Carvalho rememorou as lutas da Universidade no período da ditadura e a resistência dos estudantes e professores, principalmente na década de 1970. “A UnB sobrevive pelo seu capital de história. Ela foi envolta em uma espécie de vacinação que produziu anticorpos pelos inúmeros episódios em seus 60 anos de existência. É notável e extraordinária essa resistência. O que aconteceu no período da ditadura foi uma resistência surda vivida aqui nesses auditórios e salas de aula”, disse o professor emérito da UnB.
Ana Amélia Lins, secretária da Associação Comitê Elos da Cidadania dos Funcionários do Banco do Brasil e Amigos, contou um pouco da história da UnB, passando por sua idealização, criação, resistência na ditadura e movimento estudantil. Ana Amélia iria iniciar o curso de Arquitetura na UnB, mas foi expulsa em 1969 pelo Decreto-Lei n. 477, que previa a punição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados culpados de subversão ao regime militar. “Temos que entender que não vamos voltar pra trás, por mais que estejam tentando fazer com que isso aconteça”, refletiu.
A reitora Márcia Abrahão ressaltou a importância da constante atuação discente: “Os estudantes sempre estiveram presentes e foram protagonistas em várias formas de luta. Quando eu era decana de Ensino de Graduação, passei a ser responsável pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que resultou no aumento de vagas e criação dos campi do Gama e Ceilândia. Mas os estudantes não aceitaram o projeto inicial e tivemos todo um trabalho de diálogo. Acabamos aprovando um novo projeto do Reuni por unanimidade. Isso mostra que a Universidade e os estudantes estão sempre dispostos a discutir.”
Vladimir Carvalho ainda destacou os desafios atuais da instituição. “Lamento que vivamos hoje um momento de luta. Acompanho pelos jornais a luta de Márcia Abrahão para manter a Universidade em pé, funcionando a todo vapor, como acontece hoje. Toda universidade brasileira sofre com isso, mas estamos na capital da República e fomos, de certa maneira, penalizados por ocuparmos esse espaço. A professora Márcia, assim como toda a comunidade da UnB, está resistindo e vai resistir. Nós vamos vencer porque temos história e temos a devida dose de anticorpos.”
Em relação a essas lutas atuais, a reitora ressaltou a situação alarmante de redução orçamentária. “É importante que a gente saiba que o futuro de qualquer nação depende de uma educação livre e de financiamento para a educação, ciência e tecnologia. É questão de sobrevivência e de futuro da nossa nação. Eu e os outros reitores resistimos e vamos continuar resistindo”, afirmou.